segunda-feira, 7 de março de 2011

Bastidores do FANTÁSTICO


















Quem nunca ouviu falar no doutor Drauzio Varella, aquele médico simpático que está sempre no programa do Fantástico para falar sobre diversos assuntos interessantes? Pois é, do nada eu fiquei sabendo que ele estaria lançando uma nova série que apresentaria o cotidiano de algumas pessoas que vivem com HIV.
E eu viajei na maionese e já me vi na telinha da Globo abraçada com ele na maior intimidade como se fossemos amigos de infância, bebericando um suco de açaí no capricho. Estaríamos no quintal da minha casa, balançando na rede enquanto Serginho cozinhava um peixe com banana verde só para lhe impressionar!

E para que isto acontecesse fiz uma pesquisa poderosa na Internet só para saber maiores detalhes. Então enviei um e-mail para a produtora falando um pouco sobre o meu projeto, o tal Blablablá Positivo. Roí uma unha, pensei melhor e quase desisti. Você acha mesmo que o Doutor Drauzio iria se interessar por um projeto criado por mim? Seria um verdadeiro milagre, né? Tanta gente querendo participar e eu ali catando milho, contando através de um simples e-mail detalhes do meu trabalho como aquela palestra para a melhor idade; na igreja, Santa Casa, comunidades carentes, Fundação Casa, Saúde Mental, escolas e faculdades de Varginha, delegacia, fundo de quintal...Escrevi, enviei e esqueci até o final do dia, pois de repente um telefonema sinistro me deixou toda arrepiada:

- Poderia falar com Silmara Retti? Oi, você gostaria de participar da série do doutor Drauzio Varella?
Eu??! Como assim? Estava saindo de um brechó cheia de badulaques e gesticulava para Serginho, tentando lhe dizer que era do Fantástico. A repórter começou a fazer um monte de perguntas e eu desembestei a falar como uma louca. Ele me empurrava, tentando me desviar dos carros e das bicicletas que eu atropelava numa boa. Só sosseguei quando ela finalizou num suspiro:
-Fechado. Você pode vir para São Paulo?
Claro, como não?! São Paulo, para mim, estava a um pulo dos meus sonhos e nunca pareceu tão perto. Por mim estaria lá no mesmo dia e já arrumava toda a minha bagagem em pensamento.

" Vou para a Mooca, fico em casa, me encontro com o doutor Drauzio, passeio pelos corredores do Fantástico, tiro fotos com Zeca Camargo e beijo a boca dele"- ria - E Serginho insistia em se encaixar no roteiro. Ufa, difícíl, hein?

- Meu Rei, é só eu e ele, entendeu? Ele e eu.Depois de mando um torpedo bacana ! - brincava para relaxar , mas com os nervos trincados.

Minha cabeça dava nós e pensava mil coisas ao mesmo tempo. Falaria pra alguém? E se fosse trote? Golpe? Pegadinha? Que mico! Não abri a boca pra ninguém. Quando tentei contar para os meus meninos eles soltaram uma gargalhada idiota:
- Ai, ela vai ser a Garota Fantástico da Terceira Idade!
Mais um dia se passou e nenhum contato. Deveria ser fraude mesmo. Algum palhaço querendo me enrolar ou me matar do coração. Até que estava finalizando uma palestra e o celular tocou. Era da equipe do Fantástico e eu, para disfarçar o indisfarçável , me fiz de sonsa:

- Da onde??!!!! Ah, sim. Claro. Sim, como não? Sim!

Sim o que? Eles estavam me propondo uma bomba:-

- Poderíamos filmar você com sua família aí em Ubatuba? ".

Lembrei da minha casa que estava em reforma há dez mil anos, na cachorrada entupida de barro, no sofá furado, na parede mofada, no fogão sem pé, na piscininha entupida por folhas secas, na minha banha mole que tentava fugir pelo botão da blusa...

- Meu Deus, preciso ficar rica; preciso de uma cirurgia plástica; preciso de uma Mansão dos Nobres agora ... preciso de um milagre!- gritei para mim mesma. Engoli em seco e respondi, tranquilamente com a maior naturalidade:- Claro, querida. Será um enorme prazer!

E para consumir aquele soco no estômago, perguntei num miado :

- Vocês pretendem vir em quantas pessoas? Oito??!Ohhhh, que bom! Chegarão numa Van e passarão o dia conosco? Sejam bem vindos! - e cai dura.

Tínhamos uma semana para a grande transformação. Ninguém emagrece o suficiente para entrar elegantemente na tela da Globo em poucos dias. Então, relaxa! Só se jejuasse e esta não era a minha intenção. Elaborei uma escala de tarefas onde somente eu e Serginho cumprimos as metas porque os bonecos estavam correndo na praia e tomando sol para as fotos futuras.

Durante o dia todo eu trabalhava e depois me consumia na pintura de casa. Era muro, parede, porta, janela... Serginho passava a maquininha no quintal, consertava o portão, trocava a telha, arrumava a ducha.

- Pra quê arrumar a ducha?

- E se o doutor quiser se refrescar da praia?

- Pra quê comprar mais uma rede?

- E se ele quiser tirar um cochilo depois do almoço?

Ah, é? Beleza. Saquei o meu cartão de crédito, coloquei um salto e fui pra galera. Depois de algumas horas na rua, era fila de caminhão de entrega na nossa porta. Descia de tudo um pouco. Serginho quase enfartou:

- Cama nova? Sofá? Fogão? Tapede de oncinha?!

- Claro, você não quer que o Doutor Drauzio Varella combine com este monte de cacarecos, né? Ele é um homem elegante, meu bem.

- Mas até secador de cabelo, roupão de banho e edredon de casal?

- Relaxa. Ele merece!

Aproveitei para fazer aquela reforma deslumbrante! Ás vezes eu esperava a loja abrir e o vendedor arreganhava os dentes quando me via chegar.

Comprei até casaquinho de crochê para os cachorros e só não vesti porque tava um calor bravo! A equipe ligava quase todos os dias e íamos nos falando, combinando detalhes e tititis! Enviei fotos da nossa família e das palestras. Falei sobre o cartaz da Prevenção feito pelo Paulo Zumbi, jornal Agito e Associação Comercial. Eles adoraram. Combinei com o meu cunhado Fábio Rossi e ele fez um bem bolado com o Mané da Slogan e presenteamos a equipe com camisetas do projeto. Fiz um kit para o Dr. Dráuzio com exemplares dos jornais A Cidade, Agito ,Expressão Caiçara e Ubatuba em Revista. Também coloquei livros de autores locais.

Estávamos vivendo um sonho que poderia ser o sonho de muitos outros ubatubanos e ubatubenses: "O projeto Blablablá Positivo no Fantástico. Plim, plim!".

Moro em Ubatuba, amo a minha cidade e queria fazer o melhor, para que todo o Brasil pudesse nos conhecer de uma maneira positiva. Você que também ama Ubatuba não pensaria assim? Que bom, neste “ mar de turbulências” acho que não estamos sós e precisei dar os meus pulinhos para conseguir patrocinadores da” última hora”, mas tudo deu super certo. Fantástico, né?

Colocamos um calendário próximo aos olhos para não perdermos a noção de tempo e espaço. Como era aniversário de dezoito anos do meu filho André minha mãe fez um bolo e comemoramos no sábado, mas já com uma borboleta no estômago pois eles chegariam no domingo pela manhã.

Últimos retoques: família toda avisada, café da manhã patrocinado pela Fundart já no esquema, máquina fotográfica engatilhada só no flash, chapinha no cabelo, unhas feitas com a Elaine, roupa nova...Roupa nova?!!! Sábado, meia noite, toda manchada de tinta verde até o topete, soltei um grito de terror:

- Não comprei nada de novo pra mim! E agora?Vou aparecer no Fantástico de pijama?

- Relaxa que eles nem irão reparar. Dorme, descansa, desliga...- bocejou Serginho, petrificado de sono e ansiedade.

Que desliga o quê! Fritamos na cama. Fiz toca, maquiagem, aplique...Depois fiz café, ovo cozido, mingau de chocolate, bolinho de chuva...Ai que dor de barriga! Quando clareou o dia, peguei no sono. De repente o celular toca:

- Silmara, estamos descendo a serra.- anunciou uma voz com eco: - Descendo a serra...serra...erraaaaaa!

Socorroooo! Corri, peguei a vassoura e recomecei a faxina. Liguei para meus cunhados e chamei minha mãe, prima, tia...Colocamos a mesa, ajeitamos as frutas, passei perfume pela milésima vez e até fingi um desmaio.

André foi tomar aquele banho de duas horas; João procurava um par de meia que não estivesse furado; Raphael resolveu surfar no Pereka e só repetia a todo instante:

-Estou de boa! Dr. Dráuzio já é da casa!

Serginho olhava nos meus olhos, murmurando: - Eu vou morrer do coração!

- Agora não, meu filho. Morre amanhã, depois da gravação. Me poupe!

Nisso uma Van estaciona na nossa porta e saem pessoas numa fila indiana. Quanta gente bonita! Diretores; produtores; assistentes com suas câmeras; fios; telas; telefones e microfones.João falava alto com a vizinhança:

- É do Fantástico, dona Francisca. Dá licença.Depois a gente conversa.

Eu me senti a própria Fátima Bernardes. Após as apresentações combinamos tudo: seria gravado o nosso café da manhã em família , uma caminhada na praia do Perequê Açu e a tal palestra do projeto Blablablá Positivo com os meus filhos e o grupo da melhor idade distribuindo preservativos no final .

O diretor apenas dizia: -Relaxa. Seja natural.

Natural?!? Só se fosse sem noção: o Fantástico e mais 40 milhões de pessoas na minha casa...Na nossa casa. Aquela tão falada em dias de enchente...Aquela casa que muitas vezes no deixou na rua, com uma mão na frente e outra também, sendo consumida por metros d água...Obrigada, meu Deus. Havíamos superado mais esse obstáculo.

No início do ano sofremos com a enchente e perdemos tudo. Fomos morar com a minha mãe e levamos apenas um colchão velho. Agora estávamos ali, após muito trabalho e determinação, confiantes na nossa capacidade de superação e principalmente em Deus, abrindo a porta da nossa casa nova. Sejam todos bem vindos. A nossa casa estará sempre aberta aos verdadeiros amigos.

Serginho havia pintado quadros lindos ,inclusive um cujo tema era o vírus HIV e este foi o mais comentado, pois a produção fez uma entrevista especial com ele.

Os meninos deram seus depoimentos; minha mãe desabafou; João falou sobre como foi difícil lidar com esta situação...Falamos sobre o projeto, parcerias, comprometimentos, preconceito, amigos...Com isso rimos, choramos, nos emocionamos... Dia 10 de novembro é meu aniversário e só pude agradecer a Deus este presentão mais que especial.

Ah, como foi a gravação? Assistam a partir do dia 22 de novembro na nova série do Dr. Drauzio Varella, porque este domingo para nós foi FANTÁSTCO!

Um comentário: