domingo, 13 de março de 2011

NIKITA

Sexta feira foi a tarde do faxinão e depois que voltei do trampo resolvi passar o rodo aqui em casa.Estava de saco cheio de ver aquele mar de cuecas boiando pelos cantos e num surto psicodélico fiz uma pituca no cabelo, coloquei um pijama furado e tranquei o portão com o cadeado para ter certeza que estaria só comigo mesma. No ritmo do sapatinho aluguei o som da sala com as minhas músicas preferidas.Aquelas de tombar a peruca, do tipo ( ah, tenho vergonha, vai).Do tipo...José Augusto, Katia, Roberto Carlos e (aiiiiiiiii, doeu) Sidney Magal.E o pior.Eu cantava junto, alto, com as veias pulando no pescoço a todo vapor! Nossaaaa, ai engrenei tanto que quando percebi estava capinando até o quintal debaixo da chuva.Eu pirei o cabeção!
E o medo que alguém chegasse rindo da minha cara? André estava na academia, Raphael no tatoo, Serginho no Banco, João na escola e eu..eu na pista! kkkk
Depois coloquei Raul Seixas, Queen e Elton John.De repente começa a tocar minha música preferida: Nikita.Eu sei ela de cor desde a época do falecido CCAA!
Num acesso de fúria e nostalgia joguei a vassoura para o alto e disparei na estrofe.Até o vizinho do lado meteu a cara no muro.Ignorei!Ohhhh, Nikita you will never know, anything about my home
E a imagem do passado surgiu como um fantasma na minha frente.Fábio sorrindo pra mim...o cheiro da estopa molhada...a vontade de fazer amor com ele ali no meio da fábrica...meu sholtien de renda...seu peito peludo...seu cheiro...as lágrimas...sua boca...a batida ofegante do meu coração...E quase desmaiei.Chorava tão intensamente que ele morreu de novo diante de mim.TUDO foi ficando distante novamente.Eu não podia ir embora com ele.Abri os olhos, rapidamente meti a mão no som acabando com aquela tortura e me joguei no sofá suada pelo cansaço de transpor aquela porta estreita que separava os vivos dos imortais.Lembrei-me que agora era outra pessoa, com uma outra história, e suspirei tentando recomeçar.Logo Serginho me chamou do portão trazendo um pãozinho quente para o nosso café da tarde.Eu ainda chorava e ele nem percebeu que havia morrido por um instante e voltado a viver para que "eu não me matasse" de tanta dor e saudade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário